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Existe um vírus mais devastador solto por aí

Enquanto cientistas do mundo inteiro trabalham para encontrar respostas sobre a vacina e medicamentos capazes de frear o coronavírus, narrativas falsas sobre a doença são propagadas em redes sociais no mundo inteiro

Daniella Rocha

No mundo, já foram confirmados mais de 4 milhões de novos casos pelo coronavírus e, cada dia que passa, muitos se perguntam onde está a solução capaz de conter essa pandemia. Comunidades científicas do mundo inteiro estão mobilizadas sem descanso atrás dessas respostas, esses esforços coletivos envolvem grandes multinacionais farmacêuticas, empresas de biotecnologia, startups, institutos de pesquisas em universidades de todos os países... todos com um único objetivo: descobrir uma maneira de imunizar as pessoas contra o coronavírus.

 

Muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas, os Estados Unidos e a China estão desde meados de março realizando testes clínicos, mas nada foi descoberto ainda. Mesmo com os testes sendo feitos em ritmo acelerado, é provável que a resposta da vacina só seja dada em meados de 2021. Em uma coletiva de imprensa realizada em março, Fernando Simón, diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias, disse que as vacinas estão em fase de testagem: “As vacinas em andamento estão em seus estágios iniciais, algumas são promissoras, mas precisam ser eficazes e seguras, e haver capacidade de produção suficiente para atender às necessidades globais, por isso será um longo período.”

Apesar dos esclarecimentos sobre o processo de busca de uma vacina, muitas pessoas acabam interpretando que os EUA e a China, que estão na corrida pela descoberta da vacina, já encontraram a solução para a doença e não querem compartilhar. Mito ou verdade? Esses processos são complexos e cheio de etapas que envolvem anos de pesquisa, e o que muitos países estão tentando fazer é diminuir esse tempo.

Assim como a descoberta da vacina, muitos outros assuntos que envolvem a COVID-19 geraram várias “dicas” e inundaram as redes sociais, dificultando, muitas vezes, o entendimento da população. Mito ou verdade? Nós buscamos apresentar aqui algumas dessas narrativas sobre o novo coronavírus, que vêm sendo disseminadas aos quatro ventos. Na era de tecnologia avançada e redes sociais, muitas delas só serviram para confundir e alimentar um vírus ainda mais devastador: as Fake News.

MITO OU VERDADE?

Existe vacina contra o novo vírus?

Mito. Assim como não há vacina, também não há tratamento específico. Tem sido indicado repouso, consumo de líquidos, alimentação saudável e algumas medidas para aliviar os sintomas, como medicamentos para dor e febre. No caso de febre persistente, o indicado é procurar o serviço médico.

Israel já tem vacina contra o novo coronavírus?

Essa informação é falsa. Até o momento, não há nenhum remédio, chá, vitamina ou vacina capaz de prevenir ou curar uma pessoa da Covid -19. O que existe em Israel é uma equipe de cientistas que tentam desenvolver uma vacina, assim como em outras partes do mundo, como na China, nos Estados Unidos e no Brasil, por exemplo.

Chá de erva doce, água morna ou uísque combatem ou protegem as pessoas em relação ao coronavírus?

Mito. Erva doce não é componente do medicamento Tamiflu (retroviral usado para casos de gripe), como circulou na internet. Portanto, não é eficiente no combate ao coronavírus. Outra fake news diz respeito a tomar água morna de hora em hora, pois seria bom para levar o vírus que fica na boca para ser digerido no estômago. Infelizmente, isso não é verdade. A ingestão de uísque também não contribui. O melhor cuidado ainda é a prevenção.

“Sopa de Morcego” foi a responsável pela disseminação da doença na China?

Mito. De acordo com a OMS, não há comprovação científica de que "sopa de morcego" tenha sido a responsável pela disseminação do coronavírus na China.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu que o vírus pode atingir os neurônios, causando confusão mental, dificuldade motora e até coma? 

Mito. Em esclarecimento, o Ministério da Saúde explica que a instituição não tem condições de realizar pesquisas do tipo e que não há nenhum caso do novo coronavírus no Brasil para ser estudado.

A taxa de mortalidade do novo coronavírus é maior do que a de outras manifestações do vírus?

Mito. De acordo com estudo realizado pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CCDC), a taxa geral de mortalidade do Coronavírus é de 2,3%. Em pessoas com mais de 80 anos chega a 14,8%. Em comparação a outros coronavírus já registrados, como a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), o novo coronavírus não é tão mortal. A taxa de mortalidade do SARS era de 10% e a da MERS em torno de 20% a 40%. No entanto, o nível de transmissão do novo coronavírus é maior.

Cães e gatos podem transmitir a doença?

Mito. Não há evidências de que animais domésticos podem ser via de transmissão do Coronavírus, mas se recomenda sempre lavar as mãos após brincar com os pets.

Correspondências vindas da China correm o risco de transportar o vírus para outros locais?

Mito. O vírus sobrevive no máximo 24 horas fora do corpo humano, por isso não é possível que ele seja levado para outros locais do mundo através de objetos e cartas.

Tomar uma superdose de vitamina D evita o coronavírus?

Mito. Uma mensagem assinada por um médico diz que a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) indica um reforço na imunidade para prevenir essa doença. Para isso, seria preciso injetar uma dose alta de vitamina D, que teria o poder de modular as defesas do corpo. Só que a notícia é completamente falsa. A SBI emitiu um comunicado afirmando que jamais fez tal recomendação. “Tomar uma vitamina não vai mudar sua resposta a um agente estranho”, comenta Nancy Bellei, infectologista consultora da entidade e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

Já ter pego gripe protege contra o coronavírus?

 

Mito. O influenza é diferente do coronavírus. Quando somos infectados por um subtipo do vírus da gripe, nosso organismo aprende a se defender especificamente contra ele, em um processo chamado de resposta imune adquirida.

 Itens como luvas e máscaras nos protegem da transmissão da doença?

Verdade. O uso da máscara é recomendado para todos que precisarem sair de casa. No entanto, pessoas assintomáticas devem utilizar máscara caseira de pano. O objetivo é deixar as máscaras descartáveis para pacientes com casos confirmados e com suspeita da doença, além de profissionais da saúde e cuidadores. A recomendação para prevenção é descartar as máscaras a cada 4 horas quando em ambientes externos. Dentro de casa, o uso da mesma máscara pode se manter até que ela fique úmida ou suja.

Pessoas com máscaras podem contrair o Coronavírus?

Verdade. A máscara protege contra a doença, mas não a evita. Existem outras formas de contrair o Coronavírus mesmo estando de máscara. A principal forma de contágio é por meio do ar, quando a pessoa contaminada tosse ou espirra, espalhando o vírus. Outra forma é o contato das mãos em superfícies contaminadas em até 24 horas após a eliminação do vírus, por isso é importante evitar tocar olhos, nariz e boca sem higienização adequada das mãos. A lavagem das mãos deve ser feita com água e sabão, além do uso de álcool em gel ou álcool 70%. Além da palma da mão, a lavagem deve incluir o dorso, entre os dedos e o pulso.

Existe um exame capaz de detectar a existência do Coronavírus no corpo humano?

Verdade. É possível fazer o diagnóstico laboratorial específico para Coronavírus, por meio da detecção do genoma viral. Além disso, com a investigação clínico-epidemiológica se avalia histórico de viagem para o exterior ou contato próximo com pessoas que tenham viajado para fora do país.

O contato com a carne de animais silvestres pode ser uma via de transmissão?

Verdade. Além do contágio entre os humanos, existe também a possibilidade de contágio por meio de animais silvestres, como morcegos e cobras.

Os sintomas são parecidos com o de um resfriado comum?

Verdade. Em caso de febre, tosse e dificuldade para respirar, é preciso ficar alerta. Em alguns casos, também há complicações respiratórias, podendo evoluir para pneumonia.

Chá de boldo elimina sintomas da Covid-19?

Mito. Um texto que circulou no Facebook dizia que o chá de boldo conseguiria deter a doença em apenas três horas. O chá possui, sim, muitos benefícios, mas é importante dizer que não incluem a cura da Covid-19. 

O novo vírus pode ser tratado com remédios para HIV, influenza ou antibióticos?

Mito. Até agora, não existe um tratamento específico contra o coronavírus, além de observar e remediar os sintomas e as complicações da infecção. Entretanto, com o avanço dos casos, os médicos estão fazendo testes com medicamentos originalmente criados para enfrentar outras enfermidades.

Lavar nariz com frequência evita o coronavírus? 

Mito. A higienização frequente das narinas é a melhor maneira de desentupir o nariz, além de amenizar os sintomas da rinite. Só que seus benefícios param por aí, uma vez que a higiene do local não impede que um vírus entre pela mucosa e acesse o organismo.

Essas e muitos outras Fake News vem inundando as redes sociais e confundindo uma grande parte da população, que está preocupada sem saber em quê ou em quem acreditar. Ouvimos uma especialista para entender sobre os impactos que essas desinformações causam na sociedade.

Para a jornalista e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, Luciana Agnez, esse cenário é preocupante, porque a propagação dessas notícias falsas é muito rápida, em alto volume e com consequências graves que podem tanto dificultar as medidas de contenção, como por em risco a vida das pessoas por meio do descumprimento do isolamento social, e com o uso de medicamentos não comprovados pela ciência, trazendo consequências sérias para a saúde.

Luciana explica os motivos de a área da saúde ser tão visada, principalmente, durante a pandemia: “As pessoas que propagam esse tipo de conteúdo quase sempre tem um interesse econômico, porque são conteúdos que geram visualização, cliques e compartilhamentos, que é o que interessa dentro de uma lógica da economia digital. Além  também poder ter outros interesses envolvidos, como interesses políticos ou mesmo de teorias da conspiração. Mas quase sempre são conteúdos extremamente populares e que geram o que a gente chama de engajamento, então por isso que essa é uma área muito visada. Agora numa pandemia em que as pessoas estão todas atentas e assustadas, em que as informações ainda são desencontradas e por isso tudo ser novo, esse terreno ficou extremamente fértil e propicio para que aumento desse tipo de conteúdo.

Referências:

https://academiamedica.com.br/blog/posts-para-compartilhar-nas-redes-sociais-sobre-o-coronavirus-covid19

https://sbpt.org.br/portal/mitos-e-verdades-coronavirus/

http://painel.programasaudeativa.com.br/materias/epidemias/mitos-coronavirus

https://www.revistaencontro.com.br/canal/saude/2020/03/oito-mitos-e-verdades-sobre-o-novo-coronavirus.html

https://saude.abril.com.br/medicina/coronavirus-mitos-prevencao-tratamento/

https://setorsaude.com.br/12-mitos-sobre-o-covid-19-nao-confirmados-pela-ciencia/

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